Estudantes e tutores do curso Saúde e Bem Viver – cuidado integral para a saúde mental de Alagoas protagonizaram um importante momento de partilha e celebração do conhecimento durante a Mostra Estadual de Boas Práticas de Cuidado Integral em Saúde Mental e Bem Viver, realizada na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), em Maceió, na segunda semana de outubro.
Com apresentações orais e exposição de banners, os participantes compartilharam os Projetos de Intervenção (PIs) desenvolvidos em seus territórios, concluindo a formação voltada a profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) de 37 municípios. O evento contou com representantes da Uncisal, gestores estaduais e municipais, além de dirigentes públicos interessados em participar das próximas edições da iniciativa, promovida pelo Núcleo de Gestão da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS do Departamento de Gestão do Cuidado Integral da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (NTG-PNPIC/DGCI/SAPS/MS).
A programação incluiu apresentações culturais, como o pastoril do Serviço Social do Comércio (Sesc), formado por idosos, e demonstrações das práticas de Lian Gong (prática corporal que combina exercícios de medicina tradicional chinesa e cultura física para fortalecer o corpo e melhorar a saúde), conduzida por Giannini Fialho, e Jin Shin (utiliza sequências de toques gentis para harmonizar e promover bem-estar físico, mental, emocional e espiritual), ministrada por João Damasceno.

O coordenador de articulação territorial do curso em Alagoas, Everton Carnaúba, destacou o impacto da formação, que reuniu 81 profissionais da APS em cinco turmas, com aulas presenciais, síncronas e assíncronas, entre maio e setembro.
“O curso trouxe bem viver e equilíbrio para o profissional de saúde. Permitiu ele se enxergar no seu território (de atuação), ter outra visão de cuidado, que não o biomédico e praticar seu senso crítico para a resolução de problemas no território. Trabalhou uma abordagem de cuidado integral e valorizou a escuta. A gente ouviu muito isso nos depoimentos durante os encontros presenciais com os estudantes”.
A tutora e coordenadora do Núcleo de Judicialização em Saúde de Arapiraca, Ana Renata Almeida, ressaltou o autocuidado como principal aprendizado. “Despertar para a importância de a gente se cuidar, de estar bem para poder cuidar do outro, foi uma alerta sem igual. Poder reconhecer onde se melhorar para prestar melhor assistência”.
Flávia Reis, integrante do núcleo pedagógico do curso, mostrou um panorama nacional da formação ofertada em 17 estados — concluída em 11 (AC, AM, MS, GO, MA, PB, AL, BA, PR, SC e RS) e em andamento em seis estados (PI, SP, ES, PE, MT, CE) — sob a coordenação do ObservaPICS/Fiocruz, com o objetivo de fortalecer a APS e promover o cuidado integral de trabalhadores e usuários do SUS por meio das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) e de outros modelos de cuidado não biomédico.
Da equipe técnica do ObservaPICS, Thiago Brito apresentou o sociograma em desenvolvimento, criado com o software R, que reunirá informações sobre os PIs por tema, localidade e tipo de prática, entre outras informações. O trabalho é realizado pela engenheira civil e estudante de estatística Thays Aquino.
INTERVENÇÕES APRESENTADAS – A maioria dos projetos foi exibida em banners, e cinco em formato oral. Entre eles, o PI Abordagem terapêutica com plantas medicinais: o consumo de chás e suas curiosidades voltadas para terapia em grupo com pacientes psiquiátricos. Desenvolvido pela farmacêutica Larize Amâncio e pela assistente social Juliana Cristina Uchôa, em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), o PI buscou promover o uso racional e seguro das plantas medicinais, consumidas em forma de chá pelos pacientes, para substituir medicação alopática.
Para isso, promoveram rodas de conversa, jogos, como caça-palavra, atividades de escrita e escalda pés, objetivando proporcionar troca de conhecimentos, promover vínculos sociais, equilíbrio emocional, estimular a cultura de saúde participativa e valorizar os saberes populares.

Focado na saúde do trabalhador, em Feliz Deserto, a 115km da capital Maceió, Equilibrar para cuidar – Práticas Integrativas na Saúde do Trabalhador da Unidade Básica de Saúde fez uso da ventosaterapia e da auriculoterapia para tratar dores musculoesqueléticas e sintomas de ansiedade e estresse em 11 profissionais. Eles responderam a um questionário estruturado com Escala Visual Analógica (dor) e Escala de Ansiedade GAD-7. Nove deles (11%) relataram dores em ombros, coluna cervical e lombar, costas e tornozelos, além de insônia recorrente e cefaleia moderada diariamente. Oito (64%) foram identificados com ansiedade e/ou estresse.
Após quatro sessões semanais com as Pics, as sete mulheres e os quatro homens tiveram seus sintomas reduzidos. Dentre aqueles com queixa de dor, dois saíram do quadro de dor leve para ausência de dor e outros dois da dor intensa para moderada. Nos casos de saúde mental, quatro foram da ansiedade/estresse moderada para nenhum sintoma e duas de moderado a severo para sintomas leves.
“No processo de avaliação pós-intervenção, percebemos alívio da ansiedade e do estresse, da insônia, da intensidade da dor, além do bem-estar físico, psíquico e emocional no ambiente de trabalho e na vida cotidiana. Isso mostra que para ter um ambiente de trabalho colaborativo e harmonioso, ter disposição e motivação, é preciso acolher o trabalhador”, afirmou Amauri Araújo.
IMPORTÂNCIA DA INICIATIVA – Coordenadora técnica de atenção psicossocial da Secretaria de Saúde de Maceió, Rosiane Farias avaliou o curso como uma oportunidade de valorização das Pics na rede municipal: “Às vezes a gente só valoriza as tecnologias mais duras. “As práticas integrativas são parte fundamental do cuidado no SUS. Nosso objetivo é ampliar os espaços e modalidades disponíveis em Maceió. No Núcleo de Cultura tem algumas pessoas que trabalham com auriculoterapia, mas queremos trazer mais modalidades, trabalhar com pessoas que já têm esses conhecimentos, agregar parcerias. Entendemos como isso é importante e impactante na vida das pessoas”, explica a gestora que também foi aluna da formação.
Meuri Silva, coordenadora da APS de Branquinha, a 67km da capital, participou do evento para conhecer as experiências e demonstrou interesse em aderir à próxima edição:
“Temos interesse de fazer parte de uma próxima edição por entender que será importante para a saúde mental dos munícipes e dos trabalhadores”.
A coordenação do ObservaPICS, instância ligada à Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, analisa junto ao Ministério da Saúde a ampliação do projeto. Em Alagoas, Saúde e Bem Viver teve o apoio da Secretaria Estadual de Saúde e da Escola de Saúde Pública Professora Valéria Horta, ligada à Uncisal. A coordenação pedagógica foi de Rejane Calheiros, da escola de saúde.
A mesa de abertura contou com a presença da pró-reitora de Ensino e Graduação em exercício, Maria do Desterro Costa e Silva, do pró-reitor estudantil Eden Erick Tenório, da diretora da Escola de Saúde Valéria da Hora, Jinadiene Moraes, da supervisora de Educação e Promoção da Saúde da SES/AL, Marília Nascimento, e de Tereza Cristina Carvalho, da Gerência de Desenvolvimento Educacional em Saúde. Roseane Farias representou o secretário municipal de Saúde de Maceió, Claydson Moura.

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