Brasília ganhou quatro hortos terapêuticos, espaços de cultivo de plantas medicinais com participação comunitária para promoção de saúde, educação em saúde, troca de saberes e cultura de paz. O plantio das ervas é feito pelo cultivo biodinâmico, sistema de produção com características próprias, como o acompanhamento do calendário astronômico, em agroflorestas. Eles são resultados do Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais, uma iniciativa pioneira, concluída em abril, ofertado pela Fiocruz Brasília em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Os hortos estão nas unidades básicas de saúde do Lago Norte; Centro de Referência em Práticas Integrativas em Saúde (Cerpis), em Planaltina; Casa de Parto, em São Sebastião e na Farmácia Viva de Riacho Fundo I. A implantação foi responsabilidade dos alunos, que são funcionários da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e trabalhadores rurais ligados a movimentos sociais. Eles participaram de todas as etapas desse processo. Desde conhecer a comunidade local em suas diferentes dimensões e planejar os canteiros com base nas plantas de interesse da população, até a preparação dos canteiros e o plantio das mudas e sementes.
A aplicação dos preparados e o uso dos compostos biodinâmicos também constaram como etapas da implantação. Ramo da antroposofia, a agricultura biodinâmica utiliza preparados feitos com plantas medicinais, esterco e silício para vitalizar o solo, não fazendo uso de agrotóxicos. Considera os seres humanos e vegetais existentes no ambiente de cultivo, e dá importância aos cuidados com a água, o ar e o bem-estar do agricultor.
ESPECIALIZAÇÃO FIOCRUZ – Para a técnica de enfermagem Keila Mascarenhas, o curso não foi só sobre o cultivo biodinâmico, mas uma experiência maior que está reverberando na sua vida. “Quando a gente toca o solo a gente está tocando a nossa alma. O solo sou eu. Está na gente” afirmou. Ela e sete colegas implantaram o horto medicinal com mais de 50 espécies numa área de 120m2 da Casa de Parto. Lá estão sendo cultivadas plantas usadas no pré e no pós-parto, como a calêndula e o algodão. Nos quatro hortos foram plantadas cerca de 150 espécies diferentes de plantas medicinais.
Instrutor do curso, o professor Nelson Filice, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/ SP), acredita que a instauração dos hortos serve como referência a ser trabalhada nas Farmácias-Vivas. “Horto tem dimensão maior que canteiro porque a coleção de espécies é maior e a forma de produção, diferente. O cultivo agroflorestal biodinâmico é uma forma de cultivo que quando se põe a planta no chão não se espera ela vir a ser para cuidar. O cuidado já está em processo. Você está cuidando do solo que é berço de planta que vai crescer ali e será produto de cuidado de outra maneira”.
Felice e a professora Renata Carnevale, também da Unicamp, são autores do guia Modelagem Farmácias Vivas-Jardins Terapêuticos para Implantação em Serviços de Atenção Primária à Saúde no SUS, uma parceria com o ObservaPICS. A obra, lançada em uma live no canal do Observatório no Youtube em março deste ano, está acessível abaixo.