Na cultura brasileira, muitas famílias, replicando a sabedoria dos ancestrais, como ocorre entre indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais, adotam na rotina banhos individuais e lavagem de ambientes, inalações e massagens com folhas, cascas e flores aromáticas ou óleos retirados delas. Entre as espécies conhecidas, destacam-se a hortelã, o alecrim e a lavanda. Mesmo sem saber, essas pessoas praticam uma forma de aromaterapia, absorvendo pelas vias respiratórias ou por meio da pele componentes medicinais das plantas presentes na rica biodiversidade brasileira ou do canteiro particular de cada quintal.
Considerado um suporte terapêutico para diferentes males físicos e psíquicos, a aplicação de plantas e de outros derivados de vegetais aromáticos faz parte do amplo repertório de cuidados presente no Sistema Único de Saúde. É uma das 29 práticas integrativas e complementares em saúde presentes na política nacional implantada no Brasil a partir de 2006. Estudiosos vinculados a universidades e aromaterapeutas com atividade no SUS aconselham o uso também durante a pandemia de covid-19.
A professora Alexsandra Nascimento, da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças da Universidade de Pernambuco (UPE), coordenadora de projeto de extensão em aromaterapia, assina um dos textos do segundo suplemento da coleção Cuidado integral na covid-19. Ela alerta, logo num dos primeiros trechos da abordagem, sobre a inexistência, até o momento, de estudos comprovando a eficácia de óleos essenciais contra o coronavírus SARVS-Cov-2, o que provoca a doença covid-19.
“As recomendações apresentadas estão fundamentadas em estudos prévios frente a outras condições de saúde e outras epidemias . A grande potencialidade desse cuidado é o fortalecimento humano. Quanto mais equilibrados corpo e mente em sua integralidade, melhor será a resiliência diante da crise em que vivemos”, esclarece Alexsandra.
Outra autora, que colabora no mesmo caderno, Ana Carla Prade, coordenadora da Farmácia Viva de São Bento do Sul (SC), defende que a aromatização de ambientes e terapias individuais, além de proporcionar excelente experiência sensorial, “podem ser aliadas importantes tanto para que profissionais de saúde retornem o cuidado para si, quanto para usuários do SUS que estão em suas casas ou em unidades de saúde buscando aliviar sintomas físicos, emocionais e espirituais aos quais a pandemia de covid-19 nos submete.”
PROTOCOLOS PARA ORIENTAR O USO
No suplemento Aromaterapia: o poder das plantas e dos óleos essenciais, as autoras relatam como a ciência vem estudando os diferentes aspectos da aromaterapia. Relatam a experiência de diferentes povos no mundo ao longo da história, discutem o conhecimento gerado em torno do uso, listando propriedades de diferentes espécies de plantas e indicando formas de aplicação com variados fins. Protocolos específicos e recomendações para aquisição e dosagem de óleos essenciais completam o conteúdo.
Para os profissionais de saúde que estão em atividade, principalmente quem assiste pessoas com covid-19, há dicas importantes, como a desinfecção complementar à convencional. Depois de seguir rigorosamente o descarte de paramentos e higienizar o corpo, já em casa, o trabalhador pode, por exemplo, fazer bochechos com óleo essencial de tea tree (alecrim), para ajudar na limpeza das vias respiratórias. O mesmo alecrim, a sálvia e a manjerona também aparecem numa lista de plantas que podem ser utilizadas em domicílio pela população geral.
A coleção Cuidado integral na covid -19 é uma produção do ObservaPICS com a colaboração de pesquisadores e profissionais do SUS de diferentes regiões do país. O primeiro número trouxe informações atualizadas sobre terapia floral. Aguarde as futuras edições, disponíveis sempre aqui, na página especial PICS & Covid-19 do nosso site.