Qual a relação de cada ser humano com a Terra e o território onde vive? O que tem a ver consumo com a qualidade da vida no planeta? Afinal o que é sustentabilidade numa vida social e o que isso impacta na saúde? Para debater questões como essas, no dia 15 de outubro a Fundação Oswaldo Cruz em Brasília promoveu o evento virtual Diálogos sobre Saúde, Sociedade e Sustentabilidade. O encontro organizado pelo Programa de Saúde, Ambiente e Trabalho da unidade contou com a participação de dois integrantes do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde: a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, coordenadora executiva do ObservaPICS, e o sociólogo Nelson Filice, docente e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro do Conselho Editorial do Observatório. Eles debateram com o dirigente da Seção de Ciências Sociais do Instituto Goetheanum (Suíça), Gerald Häfner, referência da medicina antroposófica no mundo, parlamentar e co-fundador do Partido Verde na Alemanha, entre outros convidados.
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Häfner fez reflexões sobre o lugar da humanidade num planeta em crise. “Se respiramos todos o mesmo ar, somente juntos podemos sanar as crises sociais que devastam o mundo”, disse. O evento reuniu também a deputada federal Érika Kokay (PT-DF) e a diretora da Escola de Governo Fiocruz- Brasília, Luciana Sepúlveda. Para Luciana, é necessário vincular as ações de educação e saúde, pois uma é determinante da outra. O conteúdo completo está disponível no Canal da Fiocruz Brasília no Youtube.
SAÚDE INTEGRATIVA
“As práticas integrativas e complementares em saúde levam a um encontro consigo e com o outro. Tenho visto nas pesquisas que a criação de redes e laços sociais por usuários das PICS é um dos efeitos mais potentes. Na medida em que as pessoas iniciam a meditação, elas se abrem para acolher o outro. Práticas iniciadas individualmente, como acupuntura e homeopatia, também levam a um movimento de interação”, afirmou Islândia, convidando as pessoas a repensarem as ações isoladas de saúde. “É possível separar saúde, sustentabilidade e sociedade?”, provocou. Embora sejam questões inter-relacionadas, nem sempre estão expostas dessa forma nos programas de educação que começam desde a infância, lembrou a pesquisadora. “Nenhuma imagem faz referência da relação entre a água do rio e do mar com o nosso suor (…) Quando o Pantanal queima, não queima sozinho. Se compartilhamos a mesma água e o mesmo ar, não há como entender que a floresta e o animal estão morrendo sozinhos (…) Talvez a pandemia traga essa ideia de pertencimento”, completou.
A pesquisadora falou da sua experiência pessoal, do contato com a Caatinga no Sertão pernambucano, onde nasceu, ao convívio com os povos indígenas, durante as pesquisas mais recentes sobre saúde e saber tradicional. “É preciso olhar para o mundo como sendo parte dele, os povos indígenas falam isso há muito tempo. Aílton Krenak diz que a complexidade da terra se manifesta em vida. Que nossos atos individuais e coletivos possam criar novos fenômenos, como podemos articular instrumentos e ferramentas para uma vida sem males, o que os guaranis chamam ‘tekoha’. Aprendi com eles a resiliência, a capacidade de não aceitar o menos. A vida na cidade nos faz perder a ideia de territorialização, as nossas raízes, para onde vamos. Daí a potência dos povos indígenas, de lutar pela terra sem males,” observou.
SINGULARIDADES
Nelson Filice de Barros, professor pesquisador do Laboratório de Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP), lembrou que “o social é a diferença, conjunto de sujeitos singulares e não universais”, o que exige “mais cooperação em vez de exploração”. Segundo ele, as relações são muito distintas em relação a classes, gêneros, ciclos de vida e acesso. “Uma política universal pode ser uma violência estrutural”, alertou. Leia mais no site da Fiocruz Brasília.