As seis horas de debates promovidos pelo webinar internacional Articulação das PICS nos sistemas de saúde das Américas: regulação e políticas, nesta sexta-feira (26/03), confirmaram a necessidade de esforços conjuntos para vencer desafios comuns no Continente Americano e avançar numa maior integração entre medicinas tradicionais, práticas integrativas e as políticas públicas de saúde. Com transmissão pelos canais do ObservaPICS e da BVS/MTCI no Youtube, o evento reuniu pesquisadores e autoridades de 12 países, sendo exibido mais de dual mil vezes nas primeiras horas. Foram apresentadas iniciativas e marcos legais de políticas que estão em implantação, algumas delas em maior diálogo intercultural com povos originários, as comunidades indígenas.
“Uma medicina intercultural, integrativa, que cuida mais da saúde do que da doença, é uma medicina do futuro”, argumentou Martha Villar López, do Peru, professora da Universidade Nacional Mayor de San Marcos. Nesse país, desde 1990 foi criado o Instituto Nacional de Medicina Tradicional. A história dessa integração está descrita no livro Experiências e reflexões sobre medicinas tradicionais, complementares e integrativas em sistemas de saúde das Américas, lançado no evento numa iniciativa do ObservaPICS e da Rede MTCI Américas, organizadores do webinar em conjunto com o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIn), a Rede de Atores Sociais em PICS (RedePICS Brasil), o Comitê de Medicina Tradicional, Alternativa e Complementar da Faculdade de Medicina do Peru e a Rede Universitária de Medicina e Saúde Integrativa do Chile (REUNMI). A publicação, em formato e-book, também tem textos de pesquisadores do Brasil e de mais três países.
A pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, coordenadora do ObservaPICS, propôs a construção conjunta de diretrizes para garantir acesso universal a um modelo de saúde integrativa. “As experiências apresentadas mostram que há diferenças entre os países, mas existe um desafio comum, que é vencer a colonialidade.
“Diferentes experiências que abrem muitas oportunidades de aprendizagem. Alguns desafios são comuns, como a integração com medicamentos tradicionais, que nos convida a construir um plano estratégico nas Américas com a participação dos povos indígenas”, ressaltou. Lembrou a importância da criação da Rede MTCI Américas como base para esse caminhar em parceria entre os movimentos dos diferentes países.
Para Rafael Dall Alba, representante da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), é necessário um levantamento sobre todas as políticas existentes nas Américas, construir interfaces com outros campos como direitos humanos e economia solidária, para estabelecer uma unidade representativa no Continente frente aos órgãos nacionais e multilaterais. De acordo com OPAS, “as MTCI constituem importante modelo de cuidado à saúde, sendo em muitos países a principal oferta de serviços à população” e, em outros, “complementar ao sistema convencional”. A entidade lançou uma página sobre o tema.
INFORMAR A POPULAÇÃO
Socializar cada vez mais as informações sobre práticas integrativas para o público geral e divulgar as evidências científicas, vencer a resistência do pensamento biomédico e os interesses comerciais contra a saúde também foram ideias expostas, assim como ampliar o diálogo intercultural entre as medicinas tradicionais e os profissionais que estão em postos e hospitais.
“No Brasil, o trabalho do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIn), no compartilhamento de evidências científicas, e do ObservaPICS na divulgação de estudos e das experiências no SUS são exemplos positivos das iniciativas para informar mais a sociedade”, explicou a pesquisadora Ana Tânia Sampaio, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Rede Nacional de Atores em PICS (RedePICS Brasil). Para ela, é fundamental replicar esses modelos nos demais países das Américas. No Brasil, conforme Ana Tânia, quase totalidade dos municípios oferta PICS e, em 90% dos casos, as práticas acontecem na atenção primária.
Para Natália Aldana, da BVS/MTCI e da Red MTCI Américas, o compartilhamento de ideias, experiências e desafios entre os países fortalece a atuação conjunta e a construção de um plano estratégico que inclua as medicinas tradicionais.
Durante o evento, representantes de diferentes países apresentaram iniciativas de inserção das práticas integrativas nos seus sistemas de saúde e de diálogo intercultural para estreitar a relação entre a medicina convencional e os saberes tradicionais de povos originários. Na Bolívia, relatou a diretora de Medicina Tradicional do Ministério da Saúde, Maritza Patzi, existem as salas de adequação intercultural em serviços de saúde, entre outras iniciativas para um diálogo com as práticas tradicionais indígenas.
A Nicarágua conta com 188 clínicas de medicina tradicional e complementar, com fitoterapia e outras modalidades. No México, 15 hospitais integrativos contam com módulos para a medicina indígena. Em Cuba, as experiências englobam homeopatia, fitoterapia e medicina tradicional chinesa. Na Argentina, apesar de diferentes iniciativas, não há uma política nacional sobre as práticas integrativas, conforme Jorge Luís Berra, da Fundação de Saúde Ayurveda Prema. Para conhecer melhor essas e outras articulações, assista às palestras e ao debate promovido pelo evento.