Formação | Guia reúne conceitos e experiência sobre TCI, a prática integrativa brasileira
Como implantar a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) na Atenção Primária à Saúde (APS)? A Associação Brasileira de TCI lançou neste segundo semestre de 2025 um guia para ajudar nesse processo. “Reúne fundamentos metodológicos, orientações práticas e estratégias de gestão que permitem desde a sensibilização de gestores até a criação de indicadores de monitoramento”, explica Milene Zanoni, presidenta da associação. Segundo ela, o principal objetivo da publicação é exatamente “ oferecer um roteiro claro e acessível para a implantação” da terapia genuinamente brasileira, originada no Ceará pelo médico e psiquiatra Adalberto Barreto. O livro foi produzido com a colaboração de vários autores, entre eles a pesquisadora e professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fioruz), Mirna Teixeira, colaboradora do ObservaPICS. Confira o que Milene Zanoni adianta sobre a publicação.
Leitores
“O guia é direcionado a um público amplo que atua diretamente na saúde e na comunidade: gestores municipais e estaduais, profissionais do SUS, terapeutas comunitários, lideranças comunitárias e conselheiros de saúde. Além disso, pode ser utilizado por universidades, pesquisadores, movimentos sociais e organizações da sociedade civil que buscam ferramentas práticas para implantar a TCI em seus territórios.”
Objetivo do guia
“O principal objetivo é oferecer um roteiro claro e acessível para a implantação da Terapia Comunitária Integrativa (TCI) na Atenção Primária à Saúde (APS). O guia reúne fundamentos metodológicos, orientações práticas e estratégias de gestão. Ao final, a meta é ampliar o acesso à TCI como tecnologia social inovadora, reduzir a medicalização excessiva, fortalecer vínculos comunitários e contribuir para uma saúde mental mais humanizada e sustentável. Além disso, o guia dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, em especial os ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), 4 (Educação de Qualidade), 5 (Igualdade de Gênero), 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e 17 (Parcerias e Meios de Implementação), reforçando o compromisso do Brasil com práticas de saúde inclusivas, equitativas e integradas ao desenvolvimento humano e social.”
Como nasceu e foi construída a iniciativa
“O guia nasceu de um processo coletivo, acadêmico e participativo, fruto da parceria entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio do Ambulatório de Saúde Integrativa (ASI) e do Mestrado Profissional em Saúde da Família (ProfSaúde), e a Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (Abratecom).
A ideia inicial surgiu a partir da dissertação de mestrado do cirurgião-dentista Marcos Fábio Turra, que, ao investigar a Terapia Comunitária Integrativa, propôs a organização das oficinas e a sistematização dos conteúdos como parte de seu trabalho acadêmico.
O processo de construção contou com a participação de cerca de 60 colaboradores, entre autores, revisores e apoiadores, dos quais 30 estiveram diretamente envolvidos nas oficinas coletivas virtuais. Esses encontros reuniram profissionais de saúde, gestores, pesquisadores, lideranças comunitárias e movimentos sociais de diferentes regiões do país, garantindo diversidade de olhares e legitimidade ao material.
O guia recebeu ainda o prefácio do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a nota introdutória da OPAS/OMS Brasil, reforçando o reconhecimento nacional e internacional da TCI como tecnologia social estratégica para o fortalecimento da Atenção Primária e da saúde mental. Também traz um texto do professor Adalberto de Paula Barreto, criador da metodologia, que reflete sobre a TCI como “arte de cuidar de si, dos outros, da comunidade e do planeta”, destacando sua potência transformadora no enfrentamento do sofrimento humano.
O resultado é um material robusto, interdisciplinar e enraizado na prática real do SUS e das comunidades, consolidando a TCI como uma estratégia coletiva de inovação em saúde.
Como acessar
“O guia foi publicado pela Editora Abratecom e está disponível em versão digital, de forma gratuita e aberta ao público. Pode ser acessado diretamente pelo site oficial da associação: https://abratecom.org/guia/.
Instituições interessadas em firmar parcerias para a divulgação do guia podem entrar em contato pelos e-mails: tcifbb@gmail.com e abratecom@abratecom.org.br.”
Presença da TCI no Brasil e no mundo
“A TCI é hoje uma das práticas integrativas mais consolidadas e reconhecidas no país, com forte impacto nacional e internacional. São 58 polos formadores e de cuidado no total, com 43 no Brasil e 15 em outros países (América Latina, Caribe, África e Europa). São mais de 30 mil terapeutas comunitários Integrativos capacitados, que já foram formados e que estão atuando em diferentes territórios. Desde 2017, a TCI integra oficialmente a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC). Em 2024, a Fundação Banco do Brasil premiou a TCI como uma das melhores tecnologias sociais nas áreas de saúde e educação, destacando sua efetividade, baixo custo e capacidade de transformação social.
Desde 2017, quando foi incluída pelo MS oficialmente como uma das 29 Pics, a TCI está presente em centenas de unidades básicas de saúde, hospitais, Caps e escolas, sendo uma das práticas mais ofertadas na Atenção Básica. Milhões de pessoas já participaram de rodas de TCI, que promovem acolhimento, reduzem o sofrimento psíquico, fortalecem redes de apoio e podem diminuir encaminhamentos desnecessários para a saúde especializada.”
Milene Zanoni Professora adjunta do Departamento de Saúde Pública e docente permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva da UEPG. Atualmente é chefe do Ambulatório de Saúde Integrativa da UEPG e coordenadora do primeiro curso de bacharelado em naturologia em universidade pública do Brasil. É presidenta em sua terceira gestão da Associação Brasileira de Terapia Comunitária.
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