Uma obra que privilegia o protagonismo de vozes silenciadas ao longo da história. Essa foi uma das definições dadas ao livro Saberes Ancestrais e Cura Integrativa: Diálogos Decoloniais lançado terça-feira (30/04) em uma roda de diálogo on-line, pelo canal do Núcleo de Psicologia Comunitária e da Saúde (NUCS) da UFCG no Youtube.  O evento contou com a presença de organizadores e coautores da obra publicada com o apoio do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS/Fiocruz). A roda de diálogo foi promovida pelas universidades federais do Vale do São Francisco (Univasf), de Campina Grande (UFCG) e de Ouro Preto (UFOP), pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE), Fiocruz Pernambuco e pelo ObservaPICS.

A publicação com 344 páginas é resultado do curso de extensão universitária Saberes ancestrais e práticas de cura, realizado em 2021. Os textos são relatos orais de lideranças indígenas de dez etnias (Krenak, Quéchua, Tukano, Mbya Guarani, Huni Kuin, Pataxó, Kapinawá, Truká, Potiguara e Pankararu), quatro lideranças negras vinculadas à tradição Iorubá nigeriana e mais duas lideranças do candomblé afro-brasileiro.

Um dos coautores presentes ao lançamento, Bino Truká, destacou que o livro é de grande importância para seu povo porque traz a história dos seus antepassados. “A história dos nossos mais velhos, da minha bisavó, da minha mãe que era curandeira e nunca teve a oportunidade de mostrar seus trabalhos, mostrar a força que as plantas têm, a força que a fumaça do pacuí tem de curar”.

Mestre juremeiro, pai Alex Gomes, de Alagoas, ressaltou que Saberes Ancestrais e Cura Integrativa vai na contramão de obras que falam de seus ancestrais, da sua cultura, dos saberes oriundos de países africanos, publicadas por pessoas brancas: “Foram escritos por brancos cheios de preconceito, racistas, de defesa da sua comunidade acadêmica branca europeia. Então foi mal escrito.” Gomes elogiou a produção do livro lançado pela Univasf, UFCG, UPE e ObservaPICS, referindo-se aos coautores. “Vocês estão fazendo diferente, trazendo para dentro do livro aquele que de fato vive e mantém viva uma cultura milenar, de saber ancestral, da cura através da natureza, da água, do barro, da casca, da folha, da semente.”

Pai Alex Gomes

Para o professor da UFOP Ricardo Moebus, pesquisador das medicinas ancestrais indígenas e um dos organizadores da publicação, essa obra simboliza a demarcação de território dentro do campo dos saberes, mas sobretudo dentro das universidades. “O livro contribui para a construção de uma universidade pluriepistêmica, multiétnica, que supera essa limitação de enquadramento das disciplinas”.

Ricardo Moebus

O curso que deu origem ao livro foi promovido pelo Centro de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Cerpics) da Univasf, em parceria com a UPE e a UFCG. O alcance do público foi de mais de 30 mil pessoas em vários países. “Estamos vivendo uma crise no campo da saúde que serviu de base para estruturação do curso e o livro é fruto de uma grande rede de pessoas, de diversos lugares e universidades, tecendo um caminho de pensar e de construir conhecimento a partir dos nossos professores da ancestralidade. ”, enfatizou o professor da Univasf Alexandre Barreto, organizador principal do curso e da obra.

Coordenadora do ObservaPICS, a pesquisadora Islândia Carvalho também participou do lançamento, ressaltando que a publicação foi uma oportunidade para ampliar as possibilidades de compreensão e de escritas para a academia e sociedade em geral, além disso foi uma oportunidade de aprendizado para toda a equipe do observatório.

Islândia Carvalho

Com ilustrações feitas por Ailton Krenak, liderança indígena, ambientalista, escritor e mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, Saberes Ancestrais e Cura Integrativa: Diálogos Decoloniais pode ser acessado gratuitamente no perfil do ObservaPICS no Arca Dados.