A criação de um banco de dados mundial com informações e evidências sobre medicinas tradicionais, práticas integrativas e complementares em saúde foi uma das estratégias de parceria ampliada propostas pela pesquisadora Islândia Carvalho, da Fiocruz Pernambuco, durante o Congresso Internacional de Pesquisa em Medicina Complementar (ICCMR 2019), que se realizou de 7 a 10 de maio em Brisbane (Austrália). Islândia coordena o Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS), sendo responsável também pelo Grupo de Pesquisa em Saberes e Práticas de Saúde da Fiocruz-PE. No evento internacional, que nesta edição tratou de caminhos e colaborações entre a prática clínica e a pesquisa científica, ela ministrou conferência no dia 10 de maio, abordando a experiência brasileira com práticas integrativas no SUS, estratégias e desafios para a pesquisa sobre o tema.

As bases de dados do Ministério da Saúde já fornecem informações acerca das 29 práticas integrativas e complementares (PICS) reconhecidas a partir de 2006. Gestores dos 5.570 municípios brasileiros podem alimentar o sistema fornecendo informações sobre as diferentes experiências. Os registros esclarecem perfil do público usuário dessas práticas, tais como idade, local de residência, sexo, como também a identificação do profissional responsável pelo cuidado oferecido, o diagnóstico que encaminhou o paciente ao tratamento, o local de atendimento, dentre outras informações.  Os dados, no entanto, são predominantemente quantitativos. “Nosso desafio é transformar resultados individuais em evidências científicas”, afirma Islândia, que abordou a questão durante a conferência. Desafio, segundo ela, que mobiliza diferentes atores no Brasil, entre eles profissionais do SUS, gestores da saúde pública e cientistas em universidades e institutos de pesquisa em todas as cinco regiões do País.

O ObservaPICS nasceu justamente com a missão de agregar o conhecimento gerado na experiência prática dos serviços de saúde e nas análises produzidas por pesquisadores, para assessorar gestores do SUS na implantação e monitoramento da políticas de práticas integrativas. Tem como parceiros o Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa, a Rede de Atores Sociais em PICS (Rede PICS), o GT Abrasco de Racionalidades e Medicina Integrativa e a Biblioteca Virtual em Saúde especializada em Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa.

“Acredito que se trabalharmos de forma colaborativa poderemos construir análises críticas, contribuindo para um sistema de saúde que amplie o modelo de cuidado, para que ele se torne mais mais integrativo e efetivo”, avalia Islândia Carvalho. Para ela, a parceria entre sistemas de saúde e pesquisadores proporcionará um banco de dados que revele de forma mais clara os resultados e evidências das práticas integrativas.

Islândia defendeu também como estratégia mundial a criação de um glossário universal, com a terminologia usada por cada país em relação às PICS, descrevendo como as práticas são aplicadas (promoção, prevenção e/ou cura) e os critérios de inclusão adotados em cada território. “Em conjunto, podemos investigar a eficácia das PICS em todo o mundo, fornecendo resultados ainda não obtidos”, afirma a pesquisadora.

O Congresso Internacional de Pesquisa em Medicina Complementar reuniu pesquisadores do mundo todo. O evento foi organizado pelo Endeavor College of Natural Health, a principal instituição de medicina natural da Austrália, e pela Sociedade Internacional para Pesquisa em Medicina Complementar. No ICCMR 2019, a doutoranda em saúde Pública pela Fiocruz-PE, Camila Maria Ferreira de Aquino, apresentou também estudos sobre custo-efetividade de unidades de saúde especializadas em PICS no Recife e em João Pessoa.

 

Foto: Divulgação/ObservaPICS