Pessoas com sequelas da febre chikungunya, uma das arboviroses transmitidas no Brasil pelos mosquitos Aedes aegypti e albopictus, vêm sendo tratadas com sucesso, em Fortaleza, no Ceará, com a auriculoterapia, uma modalidade de acupuntura que atua nas zonas neurorreativas do organismo com estímulos em pontos energéticos localizados na orelha. Estudo clínico a partir dessa experiência, desenvolvido numa parceria de Doutorado Interinstitucional (Dinter) entre as Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e do Ceará (UFC), mostrou que a terapia auxilia no alívio da dor e na recuperação da mobilidade. As principais queixas dos pacientes vítimas da chikungunya são rigidez e dores articulares, especialmente nos pés e nas mãos. “O tratamento convencional é voltado ao alívio de sintomas, com medicamentos analgésicos e antiinflamatórios. Devido ao risco de efeitos adversos desencadeados pelo uso prolongado dessas drogas, o emprego de Práticas Integrativas e Complementares (PICS), como a auriculoterapia, pode ser uma alternativa não-farmacológica segura e efetiva para o manejo dos casos sintomáticos de chikungunya”, explica Bernardo Diniz Coutinho, professor do Departamento de Fisioterapia da UFC, coordenador do Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa (Gaipa-UFC), projeto de extensão da instituição. A experiência com pessoas vítimas da chikungunya consiste em aplicar essa modalidade de acupuntura de forma complementar, associada ao tratamento convencional, que envolve o uso de medicamentos para dor, hidratação e repouso. “A auriculoterapia é um complemento, potencializando os resultados clínicos”, esclarece Coutinho.

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Efetividade e segurança comprovadas

O pesquisador estudou a efetividade da prática nesses pacientes, como parte da sua tese de doutoramento em Ciências da Reabilitação, concluída em novembro de 2018 e disponível no portal da Capes. Coutinho observou nos incapacitados pela chikungunya e submetidos à auriculoterapia uma melhora da mobilidade, do equilíbrio e da força muscular, além de alívio da dor. Artigo com os resultados completos da pesquisa deve ser publicado em breve. O estudo observou o uso de pontos auriculares específicos para a condição de saúde do participante, comparado com a estimulação de pontos não específicos. Sementes torradas de mostarda foram aplicadas como estímulo. O fisioterapeuta Bernardo Coutinho, que também integra o Consórcio Acadêmico Brasileiro em Saúde Integrativa, afirma que estudos internacionais recentes, baseados em metanálises de ensaios clínicos randomizados controlados, têm mostrado a efetividade e a segurança da auriculoterapia para a redução da dor. “Pesquisas pré-clínicas em animais e clínicas, como as realizadas pelo grupo do professor  Adair Roberto Soares dos Santos, do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostram que a auriculoterapia é capaz de mediar efeitos antiinflamatórios e modular tanto a nocicepção (algesia, recebimento de estímulos periféricos) como a dor”. De junho de 2016 a dezembro de 2017 o Gaipa-UFC realizou mais de dois mil atendimentos gratuitos em auriculoterapia para o tratamento da dor musculoesquelética e da incapacidade após febre chikungunya. Os atendimentos são prestados à população usuária do SUS por meio das ações de extensão universitária do projeto, em unidades de atenção básica à saúde de Fortaleza. Também é realizado curso de formação gratuito em auriculoterapia clínica para os profissionais colaboradores.

Serviço

O Gaipa-UFC atende  às terças e quintas-feiras, das 14h às 16h, no CEDFAM, no campus do Pici da UFC, na Rua Pernambuco, nº 1674, bairro Planalto. Pacientes com outras dores musculoesqueléticas, como as lobares, devem ser incluídos no programa neste ano de 2019. Para receber atendimento, os usuários precisam apresentar encaminhamento de um serviço do SUS.  O Grupo de Atenção Integral e Pesquisa em Acupuntura e Medicina Tradicional Chinesa (Gaipa-UFC) tem página no Facebook. https://www.facebook.com/gaipaufc/

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