O cultivo de plantas medicinais é uma realidade em mais de dois terços dos municípios brasileiros que oferecem serviços de fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Estudo realizado numa amostra de 555 cidades aponta que, em 35% delas, as prefeituras realizam plantio associado a preparação de fitoterápicos, 25% dedicam-se ao cultivo, enquanto 16% cultivam e promovem o beneficiamento na forma de desidratação e fracionamento das espécies vegetais com fins terapêuticos. Outros 13% dispensam fitoterápicos e 11% realizam manipulação, sem desenvolver o cultivo.

Essa variedade de organizações tecnológicas está revelada na pesquisa Cartografia da fitoterapia no SUS: dos itinerários do saber às alianças do fazer, realizada entre agosto de 2020 e abril de 2021. O relatório completo sobre o estudo está sendo lançado dia 2 de junho, às 15h, durante live promovida pelo Canal no Youtube do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).  Com o título Saúde no território: possibilidades a partir das plantas medicinais, o programa vai reunir os autores da pesquisa e representantes de experiências com fitoterapia em Estados e municípios brasileiros.

“Há uma predominância do plantio associado à preparação de medicamentos fitoterápicos, sinalizando robustez e viabilidade do que hoje se nomeia como Farmácia Viva”, conclui Pedro Crepaldi Carlessi, autor da pesquisa junto ao ObservaPICS/Fiocruz. Segundo ele, além do preparo de fitoterápicos, o cultivo de plantas medicinais vem sendo realizado como ação de promoção e educação em saúde, em espaços mantidos por prefeituras ou pelas próprias comunidades.

Os 555 municípios brasileiros estudados foram identificados a partir de dados do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde e por meio de consulta às Secretarias Estaduais de Saúde. “Em um primeiro momento utilizamos entrevistas estruturadas, aplicadas a gestores e trabalhadores de saúde. Na sequência, visitamos diferentes serviços de fitoterapia do território nacional. A partir do contato e escuta também de usuários dos serviços públicos de fitoterapia, buscamos pensar na construção dessa oferta de cuidado no SUS”, explica Carlessi, doutorando no Programa de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).e que atuou como pesquisador no ObservaPICS/Fiocruz.

O relatório da Cartografia da fitoterapia no SUS conta também com a autoria da pesquisadora Islândia Carvalho, coordenadora do ObservaPICS/Fiocruz. O documento, que estará hospedado no site do Observatório e no Repositório Arca Dados da Fiocruz, foi revisado por uma equipe de especialistas no tema, com experiência em políticas públicas da área e na produção de pesquisa. “Estamos em acordo com a política de Ciência Aberta adotada na Fundação Oswaldo Cruz, da qual fazemos parte”, explica Islândia Carvalho, coordenadora do ObservaPICS.

DIVERSIDADE BOTÂNICA, SOCIAL E CULTURAL

Durante a pesquisa foram identificadas 1.405 referências botânicas, que correspondem a uma grande diversidade de sistemas de classificação, usos e significados no SUS. Predominaram espécies popularmente conhecidas como “Capim santo”, “Guaco” e “Espinheira santa”, usadas tanto na forma de plantas medicinais como de medicamentos fitoterápicos.

Criado em 2018, o ObservaPICS nasceu com a missão de apoiar o SUS na implantação e avaliação da Política Nacional de Práticas Integrativas (PNPIC), desenvolvendo estudos, promovendo articulações e divulgando evidências práticas e científicas em torno das PICS.

O relatório sobre esse novo mapa da fitoterapia está sendo lançado quando a PNPIC e a Política de Plantas Medicinais completam 16 anos de vigência no Brasil. E a pesquisa insere-se no projeto Repare, do ObservaPICS, que articula a troca de informações e de experiências em torno da fitoterapia, da agroecologia e do autocuidado.

SERVIÇO:

Live Saúde no território: possibilidades a partir das plantas medicinais

Lançamento do Relatório da Pesquisa Cartografia da Fitoterapia no SUS: dos itinerários do fazer às alianças do saber

Data: 02 de junho, às 15h.

Transmissão: Canal do ObservaPICS no Youtube

Acesso: gratuito

Participantes:

Pedro Carlessi (USP/ ObservaPICS/Fiocruz) ; Kallyne Bezerra (coordenadora do Programa Hortos Terapêuticos/Farmácias Vivas da SES/Maranhão); Jaqueline Guimarães (Associação Brasileira de Farmácias Vivas e do Grupo Técnico de Fitoterapia do CRF/MG) e Ana Prade (Programa Farmácia Viva e Centro Municipal de Práticas Integrativas e Complementares na Prefeitura Municipal de São Bento do Sul- SC).

Mediação: Islândia Carvalho (ObservaPICS/Fiocruz)