Hortos terapêuticos com participação comunitária no DF

Brasília ganhou quatro hortos terapêuticos, espaços de cultivo de plantas medicinais com participação comunitária para promoção de saúde, educação em saúde, troca de saberes e cultura de paz. O plantio das ervas é feito pelo cultivo biodinâmico, sistema de produção com características próprias, como o acompanhamento do calendário astronômico, em agroflorestas. Eles são resultados do Curso de Especialização e Livre em Cultivo Biodinâmico de Plantas Medicinais, uma iniciativa pioneira, concluída em abril, ofertado pela Fiocruz Brasília em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.

Os hortos estão nas unidades básicas de saúde do Lago Norte; Centro de Referência em Práticas Integrativas, em Planaltina; Casa de Parto, em São Sebastião e na Farmácia Viva de Riacho Fundo I. A implantação foi responsabilidade dos alunos, que são funcionários da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e trabalhadores rurais ligados a movimentos sociais. Eles participaram de todas as etapas desse processo. Desde conhecer a comunidade local em suas diferentes dimensões e planejar os canteiros com base nas plantas de interesse da população, até a preparação dos canteiros e o plantio.

A aplicação dos preparados e o uso dos compostos biodinâmicos também constaram como etapas da implantação. A agricultura biodinâmica utiliza preparados feitos com plantas medicinais, esterco e silício para vitalizar o solo, não fazendo uso de agrotóxicos. Considera os seres humanos e vegetais existentes no ambiente de cultivo, e dá importância aos cuidados com a água, o ar e o bem-estar do agricultor.

Martha Villar Pópez, Live Rede MTCI/2022.

Especialização da Fiocruz

Para a técnica de enfermagem Keila Mascarenha, o curso não foi só sobre o cultivo biodinâmico, mas uma experiência maior que está reverberando na sua vida. “Quando a gente toca o solo a gente está tocando a nossa alma. O solo sou eu. Está na gente” afirmou. Ela e sete colegas implantaram o horto medicinal com mais de 50 espécies numa área de 120m² da Casa de Parto. Lá estão sendo cultivadas plantas usadas no pré e no pós-parto. Nos quatro hortos foram plantadas cerca de 150 espécies diferentes de plantas medicinais.

Instrutor do curso, o professor Nelson Filice, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP), acredita que a instauração dos hortos serve como referência a ser trabalhada nas Farmácias-Vivas. “Horto tem dimensão maior que canteiro porque a coleção de espécies é maior e a forma de produção, diferente. O cultivo agroflorestal biodinâmico é uma forma de cultivo que quando se põe a planta no chão não se espera ela vir a ser para cuidar. O cuidado já está em processo. Você está cuidando do solo que é berço de planta que vai crescer ali e será produto de cuidado de outra maneira”. Ele e a professora Renata Carnevale são autores do guia Modelagem Farmácias Vivas-Jardins Terapêuticos para Implantação em Serviços de Atenção Primária à Saúde no SUS, publicado em parceria com o ObservaPICS.